O estado de doença poderá ser contextualizado de um modo individual ou coletivo podendo, o mesmo, limitar o desempenho de obrigações sociais, profissionais e/ou familiares. A reabilitação é um procedimento que procura desenvolver as capacidades remanescentes de um indivíduo com uma lesão medular; permite assim o alcance da sua independência ao nível físico, social e profissional, de acordo com o nível de lesão, evitando ou minimizando complicações e, consequentemente, reduzir a incidência de readmissões.
Participar no processo de reabilitação implica uma complexa integração do indivíduo com lesão vertebro medular (LVM) não só com as suas famílias, mas também com os profissionais de saúde, aceitando e adaptando-se a um novo ritmo de vida. Tal só acontece quando o paciente percebe a necessidade de reestruturar toda a sua vida, esquecendo ou minimizando as perdas e aproveitando e explorando aquilo que ele tem de melhor.
Os fatores que podem influenciar esta adaptação são: o nível onde ocorreu a lesão, o envolvimento dos profissionais de saúde que nela participam, o apoio da sociedade/estado onde está inserido, o apoio da família que o rodeia e a vontade do mesmo em querer participar na reabilitação.
A doença ou deficiência, a incapacidade e desvantagem afectam não só o individuo em particular como também todo o seu microcosmos familiar.
A presença de uma deficiência num indivíduo pode levar a uma mudança no modo de o perceber no seio da família levando tantas vezes a inversões dos papéis tradicionais, e a sofrimentos muitas vezes ocultos ou camuflados e extremamente difíceis de diagnosticar e, consequentemente, tratar. Os sentimentos de insegurança e infelicidade podem manifestar-se nestas famílias uma vez que vão assumir papéis /cuidados que não se consideram confiantes para os executar e os quais surgiram de uma forma inesperada.
A família tem, no entanto, que demonstrar um papel ativo na reabilitação do indivíduo com lesão física; juntamente com os profissionais de saúde dá segurança ao seu familiar, incentiva e facilita o seu novo regresso à vida, permitindo aceitar a sua nova condição e viver em harmonia com as suas limitações.
O processo de reabilitação deverá ser sempre centrado no indivíduo com LVM; é importante conhecer as suas necessidades e trabalhar em conjunto com ele e com a sua família. Todo este método é benéfico para uma continuidade do seu tratamento, para melhores resultados e consequentemente melhor qualidade de vida. A integração da família no processo de reabilitação, além de permitir a continuidade dos cuidados, como acima foi referido, facilitam a execução das rotinas no domicílio, uma vez que detém melhores linhas orientadoras.
No seio familiar é importante serem evitadas situações de sobrecarga emocional, de isolamento dos restantes membros da família, de dificuldades ao nível profissional, de problemas matrimoniais ou de outras situações desagradáveis que podem comprometer toda a dinâmica destes procedimentos.
Assim, para termos sempre um bom nível de satisfação por parte da família em todo o processo de reabilitação, há que ter em atenção às suas necessidades culturais, manter os membros da família sempre unidos, ouvir sempre que possível todas as suas dúvidas, prestar informação nas diferentes áreas, facilitar o treino de tarefas (alimentação, higiene, vestir, transferências) e apoiar a reintegração social e profissional do seu familiar.
É ainda importante apresentar produtos de apoio/ajudas técnicas existentes (ajudas para a mobilidade, para a independência nas AVD’s e para as transferências) de modo a otimizar adaptação do ambiente ao indivíduo e aumentar a sua acessibilidade.
Assim, e para concluir, ao compreendermos as necessidades do indivíduo e da sua família ao longo de todo o percurso da reabilitação, obtemos um maior compromisso no tratamento por parte dos mesmos, uma maior confiança nos profissionais de saúde, maior grau de satisfação e ainda melhores resultados na reabilitação.
Mário Leite, Fisioterapeuta