O Turismo Acessível assume-se como um conjunto de infra-estruturas, equipamentos e serviços que permitem a todas as pessoas, com ou sem limitações “aparentes”, o usufruto de viagens, de estadias e de atividades sem barreiras particulares. Por outro lado, permite a diferenciação dos Destinos e das comunidades, não só enquanto valor integrador da dimensão humana das sociedades, mas também como um valor de mercado.
Estima-se que aproximadamente 10 a 15% da população sofra de algum tipo de incapacidade ou deficiência; se lhe juntarmos a família, os amigos e ainda um grupo em crescimento – os seniores -, estamos a falar de uma significativa parcela do mercado; que se estima poder chegar a dois terços da população… É muita gente!
Através da promoção do Turismo Acessível para Todos pode impulsionar-se o Turismo de uma forma geral e “aquecer” a economia.
Contudo, atualmente existe dificuldade em acolher grupos com maior dimensão que incluam pessoas com necessidades específicas, dado que não há capacidade de resposta satisfatória e integrada, ao nível da oferta turística em Portugal, começando pelo Alojamento, passando pela Restauração e, ainda, pela dificuldade em transportar pessoas que necessitam de produtos de apoio, como, por exemplo, uma scooter eléctrica ou uma cadeira de rodas eléctrica.
Verifica-se, com alguma lamentável frequência, que um grupo pode ter de ser reduzido por não ser possível a adesão de famílias e grupos de amigos que têm alguém com limitações. E, note-se, estão dispostos a “pagar mais” para assegurarem que as necessidades específicas dessas pessoas serão satisfeitas e o programa do grupo, em geral, não seja perturbado ou comprometido. Todos “perdemos” negócio com esta Oferta desqualificada!
Releva, ainda, reconhecer-se que em muitos Empreendimentos Turísticos, os quartos adaptados, para além de escassos, estão habitualmente mal-adaptados, ou seja, não satisfazem as necessidades dos seus utilizadores e mais parecem salas de fisioterapia ou quartos de hospital, em vez de agradáveis e acolhedores. Isto é, estão “sobre equipados” com barras e outros equipamentos de aço, que são feios e desagradáveis.
Em consequência, estes quartos não são vendidos, pelo hoteleiro, ao cliente que destes equipamentos não necessita. Estamos a falar de alojamento para “clientes” e não para “utentes”!
E é desnecessário que assim seja. Existem hoje soluções que se inspiram em conceitos ajustáveis à medida das necessidades de cada cliente.
Complementarmente a estes aspetos de ordem física, a qualificação da nossa Oferta turística terá necessariamente que passar por uma abordagem na área da formação profissional, onde teremos que melhorar as competências de atendimento às pessoas com necessidades específicas. A nossa simpatia natural não chega…para “Receber Bem”!
Trata-se de uma temática em que urge mudar mentalidades e atitudes. Esta mudança é uma tarefa sistémica que cabe a todos, nas suas diferentes áreas de atuação, que são distintas e complementares.
Implica a ação de diferentes agentes, tais como o Governo, que deve legislar de acordo com as necessidades dos Cidadãos, aos Institutos Públicos, que devem aplicar e verificar o cumprimento dessa mesma Legislação, aos Municípios, que devem acessibilizar os espaços públicos, nomeadamente em meio urbano, e, por fim, aos agentes privados que, dispondo de uma envolvente acessível para Todos, se devem adequar a receber cada vez mais clientes, potenciando o seu volume de negócios.
Ana Garcia, Presidente da Direção da Accessible Portugal
Mestre em Acessibilidade Universal e Desenho para Todos